sábado, 27 de junho de 2009

Arruda quer VLT na Esplanada

Ana Maria Campos

Publicação: 27/06/2009 08:47 Atualização: 27/06/2009 09:03


Paris — Em reunião na sede da Agência Francesa de Desenvolvimento (AFD) na capital francesa, o governador José Roberto Arruda (DEM) obteve ontem sinal verde para negociar um novo financiamento destinado à construção do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT). O trecho em discussão vai cruzar o Eixo Monumental, saindo da W3 Sul, passando pelo Memorial JK até a Esplanada dos Ministérios. A intenção de Arruda, exposta na conversa com o presidente da AFD, Jean Michel Severino, é levar o novo sistema até o Congresso Nacional. Com a ampliação do sistema, a demanda estimada em 110 mil passageiros por dia na primeira etapa vai dobrar.

O encontro foi programado para acertar os últimos detalhes do contrato de financiamento no valor de 134 milhões de euros — ou R$ 402 milhões — com a agência do governo francês para a implantação da linha de VLT entre o Terminal da Asa Sul, atrás do Setor Policial Sul, e o Shopping Pátio Brasil. A obra deverá ser concluída até o final de 2010. Arruda aproveitou a reunião para iniciar negociação com vistas à ampliação do empréstimo. O presidente da AFD tem interesse na aprovação de uma nova linha de crédito para o GDF. “A construção do ramal da Esplanada dos Ministérios é tão importante quanto o trecho até o aeroporto”, afirmou Arruda. “Já conhecemos o projeto e acreditamos na viabilidade do empreendimento”, confirmou Severino.

Arruda tem pressa, mas sabe das dificuldades de construir uma linha de trem na Esplanada dos Ministérios, área tombada de Brasília, onde qualquer intervenção provoca controvérsias. A ideia é implantar os trilhos do VLT no canteiro central do Eixo Monumental. Os vagões serão alimentados por energia elétrica, com fios aéreos presos nos postes de iluminação. O problema é estético porque a fiação fica exposta. “A cidade terá de escolher entre a poluição do óleo diesel usado pelos ônibus e a poluição visual provocada pela catenária (tipo de sistema de eletrificação por fiação em cima dos vagões)”, desafia o governador. “Estou disposto a enfrentar esse debate.”

Na manhã de ontem, depois de reunião com Severino, Arruda — acompanhado do secretário de Transporte, Alberto Fraga, e do presidente do Metrô-DF, José Gaspar de Souza — visitou a sede da RATP, a empresa pública que controla o transporte ferroviário de Paris, e conheceu uma das linhas de VLT operadas na capital francesa. No dia anterior, Arruda e sua equipe Já haviam visitado o sistema de transporte de Montpellier, cidade medieval no Sul da França.

Em Paris, o custo do trecho visitado, com 8km de extensão, saiu por 214,4 milhões de euros — R$ 643,2 milhões. A linha T3 foi construída num bairro de classe média baixa para atender uma população de 167 mil habitantes. Finalizada em 2006, conta com 17 estações abertas. Com funcionamento de cinco da manhã à meia-noite, os comboios viajam a uma velocidade média de 20km/h. Enquanto isso, os ônibus, por conta do tráfego, vão a 14km/h. A linha tem integração com o metrô convencional, com os ônibus e os trens para o subúrbio.

O VLT de Paris trafega na calçada e na grama. Como os trilhos não são eletrificados, as pessoas podem cruzar sem riscos as pistas do VLT. O modelo é igual ao concebido para o DF, cujo projeto integral vai ultrapassar os R$ 2 bilhões, com a construção dos trechos que ligam a Estação da Asa Sul- Pátio Brasil, Aeroporto-Estação da Asa Sul e Pátio Brasil-Eixo Monumental. O ramal de transportes deverá chegar ao fim da Asa Norte e à Esplanada. No trajeto até o Congresso Nacional, o VLT será operado numa linha que vai passar em cima da grama no canteiro central. Também nas Asas Sul e Norte, os trilhos serão construídos na área verde, entre as pistas da W3. Todo o percurso deverá ser concluído até 2014, quando Brasília será uma das sedes da Copa do Mundo.

Arquiteto
O governador José Roberto Arruda disse que já conversou com o arquiteto Oscar Niemeyer sobre a construção do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) na Esplanada dos Ministérios e recebeu o aval do autor dos principais monumentos de Brasília para tocar o projeto. “O Oscar quer tirar os carros da rua na Esplanada. Se não pensarmos um sistema coletivo eficiente, isso não será possível”, disse o governador. “Hoje temos um milhão de carros em Brasília e o trânsito já é difícil. Imagine daqui a 10 anos?” Ao Correio, o arquiteto não se mostrou tão favorável aos trilhos sobre a grama.

O VLT na Esplanada não é consenso nem mesmo no governo. O presidente do Metrô-DF aposta no metrô subterrâneo na Esplanada para evitar atritos com os defensores do tombamento. O governador, no entanto, está tão entusiasmado com a medida que pretende mostrar em breve o sistema a autoridades do Instituto do Patrimônio Histórico Artístico Nacional (Iphan) e do Ministério Público.

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