CAIXA DE PANDORADenúncias ameaçam atrasar obra do VLTApós a operação da PF, agência francesa exige mudança na gestão dos contratos com o GDF para liberar recursos. Negociações com o Banco do Brasil ficam comprometidas
Adriana Bernardes
Lilian Tahan
Publicação: 22/12/2009 08:39
Um dos maiores projetos do atual governo, a construção do Veículo Leve sobre Trilhos — que promete resolver parte do problema do trânsito no Distrito Federal — corre o risco de perder seus financiadores. Em função das denúncias de corrupção que atingem integrantes do governo, a Agência Francesa de Desenvolvimento (AFD) impôs uma exigência para liberar o empréstimo de 144 milhões de euros. A AFD faz questão do cumprimento de um dos itens do contrato no qual proíbe a contratação com gestores investigados por corrupção. Como a crise de suposto esquema de pagamento de propina envolve a cúpula do Executivo, entre eles o próprio governador José Roberto Arruda (sem partido), o projeto pode atrasar. Outro possível parceiro na execução do trem leve para o DF, o Banco do Brasil desacelerou o ritmo de negociação de R$ 350 milhões com o governo local.
Na tentativa de manter a data da assinatura do convênio, o secretário de Transportes do GDF, Alberto Fraga (DEM), sugeriu a executivos da AFD uma alteração na cláusula que fala sobre a corrupção. Fraga propôs que, em vez de o convênio ser assinado por um gestor ou coordenador, a parceria seja assumida pelo GDF, de forma genérica. Segundo o secretário, a alteração foi aceita pelos gestores, o que não inviabilizaria o projeto. Mas a própria Agência Francesa de Desenvolvimento não quer se manifestar publicamente sobre o assunto.
Uma das etapas de construção do VLT vai custar R$ 720 milhões. Metade desse valor foi praticamente acertada durante negociação entre Arruda e executivos da AFD em junho do ano passado, quando o governador esteve na França para tratar do assunto. Na época, a AFD aceitou financiar a construção da primeira etapa do empreendimento. Ela compreende o Terminal da Asa Sul, atrás do Setor Policial Sul, até o Shopping Pátio Brasil. A previsão é que seja concluída até o fim de 2010. Nesse mesmo encontro, José Roberto Arruda aproveitou para iniciar negociação com vistas a um novo empréstimo para ampliar o ramal até a Esplanada dos Ministérios.
Além dos euros capitaneados para o projeto, o GDF mantinha uma negociação com o Banco do Brasil para a compra dos trens. Mas as conversas com o BB foram interrompidas depois do início do escândalo político no DF. “Não vou dizer que não temos chance. O negócio é que as conversas rarearam”, afirmou o secretário de Transportes, Alberto Fraga.
Obras
O VLT foi planejado para cruzar o Eixo Monumental, saindo da W3 Sul, passando pelo Memorial JK até a Esplanada. Na época em que foi anunciado, o arquiteto Oscar Niemeyer e o superintendente do Instituto do Patrimônio Artístico e Histórico Nacional (Iphan), Alfredo Gastal, criticaram a proposta por considerar que a mudança comprometerá o desenho original da cidade.
Apesar da polêmica, a primeira etapa do VLT já começou a sair do papel. O projeto do novo sistema de transporte pensado para ligar o Aeroporto Juscelino Kubitschek ao centro de Brasília prevê a proibição da circulação de ônibus na W3 e a construção de estacionamentos ao longo de todo o trajeto.
Se as obras forem adiante, está programado um grande terminal de integração atrás do Setor Policial Sul, onde haverá baldeação para todos os futuros sistemas do DF (Metrô, VLT e VLP), com estacionamento próprio.
QUATRO PERGUNTAS
Para Alberto Fraga, secretário de transportes do DF
A AFD desistiu de financiar o VLT?
Isso não é verdade. O que ocorreu foi outra coisa. Nos últimos dias, eu tive uma conversa com um executivo da AFD e ele me lembrou que há uma cláusula no contrato impedindo a agência de firmar convênio com gestor ou coordenador citado em processo de corrupção. Então, eu perguntei sobre a possibilidade de alterar a cláusula, passando a assinar por parte do DF, o governo e não um gestor específico.
A AFD aceitou a alteração?
Sem nenhum problema. Por isso, o calendário, por enquanto, está mantido. O único problema é que essas instituições não gostam nem um pouco de ver seus nomes na mídia, envolvidos em histórias complicadas como essa.
A negociação com o Banco do Brasil foi encerrada?
Não é bem assim. O que posso dizer é que nós vínhamos conversando com mais frequência e, depois dessa crise, o banco deu uma pisada no freio, desacelerou no entendimento.
O VLT vai atrasar?
Não. Esses bancos não são a única opção do GDF. Há outras instituições com as quais o governo mantém contato. Nós optamos pelo BB, por exemplo, porque oferecia juros mais baixos. Mas temos outras negociações em andamento.
Primeira etapa do empreendimento tem previsão de entrega até o fim de 2010 |
Uma das etapas de construção do VLT vai custar R$ 720 milhões. Metade desse valor foi praticamente acertada durante negociação entre Arruda e executivos da AFD em junho do ano passado, quando o governador esteve na França para tratar do assunto. Na época, a AFD aceitou financiar a construção da primeira etapa do empreendimento. Ela compreende o Terminal da Asa Sul, atrás do Setor Policial Sul, até o Shopping Pátio Brasil. A previsão é que seja concluída até o fim de 2010. Nesse mesmo encontro, José Roberto Arruda aproveitou para iniciar negociação com vistas a um novo empréstimo para ampliar o ramal até a Esplanada dos Ministérios.
Além dos euros capitaneados para o projeto, o GDF mantinha uma negociação com o Banco do Brasil para a compra dos trens. Mas as conversas com o BB foram interrompidas depois do início do escândalo político no DF. “Não vou dizer que não temos chance. O negócio é que as conversas rarearam”, afirmou o secretário de Transportes, Alberto Fraga.
Obras
O VLT foi planejado para cruzar o Eixo Monumental, saindo da W3 Sul, passando pelo Memorial JK até a Esplanada. Na época em que foi anunciado, o arquiteto Oscar Niemeyer e o superintendente do Instituto do Patrimônio Artístico e Histórico Nacional (Iphan), Alfredo Gastal, criticaram a proposta por considerar que a mudança comprometerá o desenho original da cidade.
Apesar da polêmica, a primeira etapa do VLT já começou a sair do papel. O projeto do novo sistema de transporte pensado para ligar o Aeroporto Juscelino Kubitschek ao centro de Brasília prevê a proibição da circulação de ônibus na W3 e a construção de estacionamentos ao longo de todo o trajeto.
Se as obras forem adiante, está programado um grande terminal de integração atrás do Setor Policial Sul, onde haverá baldeação para todos os futuros sistemas do DF (Metrô, VLT e VLP), com estacionamento próprio.
NÚMERO
144 milhões de euros
Valor acertado com a Agência Francesa de Desenvolvimento para financiar o VLT
144 milhões de euros
Valor acertado com a Agência Francesa de Desenvolvimento para financiar o VLT
QUATRO PERGUNTAS
Para Alberto Fraga, secretário de transportes do DF
A AFD desistiu de financiar o VLT?
Isso não é verdade. O que ocorreu foi outra coisa. Nos últimos dias, eu tive uma conversa com um executivo da AFD e ele me lembrou que há uma cláusula no contrato impedindo a agência de firmar convênio com gestor ou coordenador citado em processo de corrupção. Então, eu perguntei sobre a possibilidade de alterar a cláusula, passando a assinar por parte do DF, o governo e não um gestor específico.
A AFD aceitou a alteração?
Sem nenhum problema. Por isso, o calendário, por enquanto, está mantido. O único problema é que essas instituições não gostam nem um pouco de ver seus nomes na mídia, envolvidos em histórias complicadas como essa.
A negociação com o Banco do Brasil foi encerrada?
Não é bem assim. O que posso dizer é que nós vínhamos conversando com mais frequência e, depois dessa crise, o banco deu uma pisada no freio, desacelerou no entendimento.
O VLT vai atrasar?
Não. Esses bancos não são a única opção do GDF. Há outras instituições com as quais o governo mantém contato. Nós optamos pelo BB, por exemplo, porque oferecia juros mais baixos. Mas temos outras negociações em andamento.
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