quarta-feira, 1 de julho de 2009

Um novo local para o VLT

Arruda diz que acatará a sugestão de Niemeyer e do Iphan de mudar o circuito do sistema para a lateral da pista na Esplanada

Ana Maria Campos
Enviada Especial

Sevilha (Espanha) — O governador José Roberto Arruda (DEM) aceitou com tranquilidade as críticas ao projeto de levar o Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) para a Esplanada dos Ministérios. Ao saber que o superintendente regional do Instituto do Patrimônio Histórico Artístico Nacional (Iphan), Alfredo Gastal, e o arquiteto Oscar Niemeyer são contrários à construção dos trilhos do bonde elétrico no canteiro central do Eixo Monumental, Arruda disse que acatará a sugestão de mudar o circuito para a lateral da pista, em frente aos ministérios. “Se cidades como Paris, Bordeaux, Barcelona, Sevilha e Dusseldorf encontraram uma solução, nós também podemos achar uma forma de diminuir os carros nas ruas sem ferir o tombamento de Brasília”, afirmou.
Na reunião do Comitê do Patrimônio Mundial da Unesco, em Sevilha, no último domingo, Arruda conversou com o presidente do Iphan, Luiz Fernando de Almeida, sobre o VLT na Esplanada. O arquiteto que representou o Brasil no seminário internacional é favorável à implantação de um sistema de transporte moderno em Brasília e acha que, na verdade, existe uma demanda premente. Ele mostrou a Arruda um livro com imagens do VLT em Bordeaux, construído numa praça antiga, totalmente preservada, mesmo depois da construção dos trilhos. “Vou conversar pessoalmente com os dois. Tenho certeza de que eles vão gostar do projeto. Foi o próprio Oscar (Niemeyer) que me pediu para encontrar um jeito de reduzir os carros na Esplanada”, disse o governador.

Em Sevilha, como em Bordeaux e Montpellier, cidade francesa visitada na semana passada por Arruda e comitiva, o bonde elétrico, com capacidade para 300 passageiros por comboio, também passa no centro histórico. O VLT — que na França se chama Tramway e na Espanha é conhecido com Tramvia — circula em gramados, calçadas e vias para carros. Como a velocidade é lenta, aproximadamente 20km/h por hora, o risco de acidentes nessas cidades é remoto. Em Paris, onde o VLT tem de conviver com os carros, o sistema é totalmente monitorado por uma central inteligente. Os sinais de trânsito estão conectados ao VLT. Quando o bonde passa, automaticamente ganha a preferência e os cruzamentos são fechados por alguns segundos para evitar a passagem dos carros.

Dubai
Para Arruda, dois detalhes precisam ser estudados. O primeiro deles é o local exato onde os trilhos do VLT serão construídos na Esplanada. O segundo ponto importante é o sistema de alimentação elétrica. Em Montpellier e Paris, como na maioria das cidades da Europa, a eletricidade funciona por meio de catenárias (fiação acima do trem). Esse modelo, no entanto, oferece uma desvantagem estética porque os fios ficam à mostra. Em entrevista ao Correio, Gastal atacou essa possibilidade. “Quando a gente fizer festa de São João já tem onde pendurar as bandeirinhas”, ironizou.

O segundo modelo de fornecimento de energia desenvolvido pela Alstom(1) é a APS (Alimentação pelo Solo). Os trilhos são eletrificados quando o comboio passa. Essa tecnologia foi adotada em 14km dos 44km da rede de Bordeaux. A cidade no norte da França transporta cerca de 200 mil pessoas por dia em suas três linhas. Também adotaram essa fórmula as cidades francesas de Angers e Avrillé, além de Dubai, nos Emirados Árabes. O problema é que a escolha desse sistema pode inviabilizar o projeto no Distrito Federal pelo alto custo. “Fica muito mais caro. Teremos de fazer um estudo”, disse Arruda.

Brasília é a primeira cidade da América Latina a implantar o VLT. A prefeitura de Buenos Aires chegou a elaborar um projeto de bonde elétrico leve para circular na região de Puerto Madero, ponto de concentração de restaurantes da capital argentina às margens do Rio do Prata. A Alstom chegou a construir uma linha experimental de 2km em Buenos Aires, mas o projeto não vingou, segundo o presidente da empresa no Brasil, Ramon Fondevila, por causa da crise econômica na Argentina.

Na viagem a Paris, o governador Arruda conseguiu sinal verde do presidente da Agência Francesa de Desenvolvimento (AFD), Jean-Michel Severino, para que o GDF comece a negociar um novo financiamento para a construção de novos trechos do VLT. Na reunião, na sede da instituição financeira ligada ao governo francês, Arruda consolidou o contrato de financiamento no valor de 134 milhões de euros — aproximadamente R$ 400 milhões — para a construção do sistema entre a Estação da Asa Sul, no Setor Policial Sul, e o shopping Pátio Brasil. O próprio GDF deverá arcar com outros R$ 300 milhões para a conclusão dessa etapa.

O novo financiamento deverá incluir os trechos Aeroporto Juscelino Kubitschek—Estação da Asa Sul, Pátio Brasil—fim da Asa Norte e Pátio Brasil—Congresso Nacional. “Acredito que conseguiremos um novo financiamento de 134 milhões de euros”, afirma Arruda.


1- ALSTOM
Empresa francesa que integra o consórcio também formado pelas empresas Via Engenharia e Mendes Júnior que venceu a licitação promovida pelo GDF para a construção do sistema de VLT. A expectativa da Agência Francesa de Desenvolvimento é de que o mesmo grupo fique encarregado de todas as etapas do sistema de transporte.

O número
R$ 400 milhões é o valor do contrato de financiamento com a Agência Francesa de Desenvolvimento

220 mil passageiros é a demanda diária do sistema completo do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT)

Fonte:
www.correiobraziliense.com.br (edição impressa 30/06/2009)

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