quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Alstom em 2008

Alstom reafirma interesse no VLT de Brasília

11/12/2008

A forte desaceleração da economia global não assusta o presidente mundial da Alstom Transporte, Philippe Mellier. “Nós temos sorte com a crise”, disse ele ao “Valor Econômico”, para quem as perspectivas para a indústria metroferroviária são estáveis ou até um pouco melhores do que antes do agravamento da turbulência mundial, dado que vários governos apostam em programas relevantes de gastos em infra-estrutura para reanimar a atividade econômica.

Mellier destacou o pacote de € 26 bilhões anunciado pelo presidente da França, Nicolas Sarkozy, para estimular a economia, que inclui a decisão de começar imediatamente quatro novas linhas de trens de alta velocidade (TGV, na sigla em francês, uma das principais especialidades da Alstom) e de investir € 450 milhões adicionais no metrô de Paris. “Está claro que em toda a Europa há uma política de investimento keynesiana”, afirmou Mellier, em conversa realizada na sexta-feira com alguns jornalistas brasileiros e argentinos, na cidade suíça de Lausanne.

Ao falar dos planos da Alstom no Brasil nos próximos dois anos, Mellier disse que o projeto que mais interessa à empresa no país atualmente é o veículo leve sobre trilhos (VLT, uma espécie de bonde moderno) de Brasília. A companhia faz parte de um dois consórcios pré-qualificados para participar da concorrência, que teve o edital publicado em 21 de novembro, com um valor total de R$ 1,3 bilhão. A abertura das propostas está marcada para o dia 22 deste mês, e o Metrô do Distrito Federal espera assinar o contrato em fevereiro de 2009, para início imediato das obras. Mellier disse que a empresa tem interesse na venda de trens para o Metrô do Rio de Janeiro e também em projetos para o Metrô de São Paulo.

O executivo mostrou cautela ao comentar as perspectivas para o trem-bala que deve ligar o Rio de Janeiro a São Paulo e Campinas. Calculada em US$ 11 bilhões, a obra faz parte do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). “É um projeto muito importante, mas acho que será necessário esperar dois ou três anos para finalizar a decisão”, afirmou ele. “As autoridades em Brasília estão pensando na questão da tecnologia, no estilo da linha. São muitos estudos antes de sair uma oferta pública”. A previsão da Casa Civil é realizar o leilão no segundo semestre de 2009 e concluir a obra em 2014.

O projeto é um prato cheio para os trens de alta velocidade da Alstom, que domina esse mercado. Desde 1981, quando houve a inauguração da linha entre Paris e Lyon, a empresa vendeu cerca de 70% dos TGVs existentes no mundo. Atualmente, a Alstom testa o AGV, uma nova geração de trens de alta velocidade que devem atingir 360 quilômetros por hora.

Os TGVs costumam ir até 320 quilômetros por hora. Operando sem locomotiva - os motores ficam distribuídos por todos os vagões -, o AGV deve entrar em operação comercial pela primeira vez em 2011, na Itália. A empresa italiana NTV foi a primeira a encomendar o produto, pedindo 25 trens, a um custo de 650 milhões de euros , além de um contrato de manutenção por 30 anos.

Além da perspectiva de que os governos invistam pesadamente em infra-estrutura para tirar a economia da crise, outra aposta da Alstom para manter o crescimento dos negócios é o baixo consumo de energia de produtos como o AGV.

Num momento em que as preocupações com o aquecimento global se intensificam, esse é um trunfo importante, diz o diretor da plataforma de trens de alta velocidade da empresa, Laurent Baron. Citando números da Agência Francesa Ambiental e de Administração de Energia (Ademe), a Alstom diz que o AGV gera 2,2 gramas de gás carbônico por passageiro a cada quilômetro, um número bem menor que os 30 gramas de um ônibus, os 115 gramas de um carro e os 153 gramas de um avião.

A questão do consumo de energia foi decisiva na elaboração do projeto do AGV, afirma Baron. Isso tem um apelo comercial importante num quadro como o atual, afirma ele, comemorando também a decisão de os eleitores da Califórnia terem aprovado, em referendo, que o Estado faça uma emissão de bônus de US$ 10 bilhões para financiar a construção de uma linha de alta velocidade entre San Francisco e Los Angeles.

A Alstom aposta as suas fichas num forte crescimento do mercado de alta velocidade até 2020. A expectativa da companhia é de que, até lá, sejam construídos mais 9 mil quilômetros na China, 6 mil na Europa, 2 mil nos EUA e 2,3 mil na Argentina. Para o Brasil, a expectativa é de que haja 400 quilômetros até 2020, uma extensão menor que os 518 quilômetros previstos no PAC para o trem-bala entre Rio de Janeiro, São Paul e Campinas.

Em abril de 2008, foi assinado o contrato para a construção de uma linha de alta velocidade na Argentina, com um trem-bala entre Buenos Aires, Rosário e Córdoba, com 710 quilômetros e um custo previsto de US$ 3,9 bilhões. A Alstom é uma das quatro empresas que participam consórcio vencedor. O problema atualmente é como conseguir recursos para financiar o projeto num momento de crise financeira. Mellier disse que, hoje, o mercado está fechado, mas considera possível que a obra seja iniciada dentro de seis meses a um ano.

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